Acusado de matar mulher grávida em Santa Cruz do Rio Pardo vai a julgamento em setembro

Franciele Camilo, de 39 anos, foi baleada na cabeça enquanto dormia grávida de sete meses. Após parto de emergência, entrou em coma e morreu oito dias depois. O bebê sobreviveu.
Reportagem: Doni de Oliveira
Quarta-Feira – 23/07/2025
O chocante caso de feminicídio que abalou Santa Cruz do Rio Pardo em 2023 finalmente será julgado. WYLLER ALVES PEDRÃO, acusado de atirar contra Franciele Camilo, de 39 anos, enquanto ela dormia grávida de sete meses, vai a júri popular em setembro deste ano. A vítima foi baleada na cabeça na madrugada do dia 18 de abril de 2023, e mesmo em estado gravíssimo, passou por uma cesariana de emergência no dia 21 para salvar o bebê. Franciele entrou em coma após o parto e faleceu no dia 29 de maio de 2023, após 41 dias internada.
A filha recém-nascida sobreviveu e hoje está sob os cuidados da família materna.
Relação extraconjugal e motivação do crime
As investigações da Polícia Civil revelaram que Franciele mantinha um relacionamento extraconjugal com o acusado. Wyller prometia deixar a esposa para assumir a relação com Franciele, o que nunca aconteceu. O romance era marcado por ciúmes, mensagens agressivas e desconfiança. Quando descobriu que Franciele estava grávida, Wyller passou a tratá-la com hostilidade. A gestação, considerada indesejada, foi o que teria motivado o crime, pois ameaçava sua vida conjugal e sua imagem pública.
Na madrugada de 18 de abril, enquanto Franciele dormia em sua residência acompanhada de sua sobrinha de 07 anos e deficiente, na Rua Manoel Severino Martins, nº 100, entre os bairros Vila São Judas Tadeu e Santa Aureliana, foi atingida por um disparo na cabeça feito de fora da janela do quarto, que costumava ficar aberta. A trajetória do projétil, de cima para baixo, indica que a vítima estava deitada no momento do ataque. A vítima foi encontrada por familiares e havia muito sangue espalhado pela casa, o SAMU foi acionado e prestou socorro à vítima, sendo encaminhada para a Santa Casa.
Evidências e contradições
Imagens de câmeras de segurança e registros do DVR da casa de Wyller foram decisivos. No dia do crime, ele passou nove vezes em frente à casa da vítima. Já na madrugada seguinte, às 3h da manhã, saiu de casa e retornou por volta das 3h30, com o veículo apresentando vestígios de terra — indício de que havia enterrado algo.
Em buscas realizadas em áreas rurais, os policiais encontraram uma espingarda de pressão adaptada para calibre .22, compatível com o ferimento de Franciele. Dentro da sacola que continha a arma, havia um exame em nome da vítima, reforçando a ligação direta entre o acusado e o crime.
Durante seu depoimento, Wyller afirmou que esteve com Franciele no dia anterior ao crime e alegou que ela estava com dores. Disse que se despediram com um beijo e que não voltou mais à casa dela. No entanto, as câmeras desmentem essa versão.
Cirurgia no dia seguinte ao atentado
No dia seguinte ao crime, Wyller se submeteu a uma cirurgia no joelho. A polícia suspeita que o procedimento tenha sido usado como álibi ou manobra para desviar o foco das investigações. Mesmo assim, as autoridades seguiram reunindo provas materiais e testemunhais que sustentam a acusação de feminicídio.

Prisão realizada apenas por mulheres da Polícia Civil
A prisão de Wyller foi feita de forma emblemática: por uma equipe composta exclusivamente por mulheres da Polícia Civil de Santa Cruz do Rio Pardo. Ele foi localizado em São Pedro do Turvo/SP, onde também foram cumpridos mandados de busca e apreensão. Outro endereço investigado foi em Ribeirão do Sul/SP, onde foram recolhidos o carro usado no crime, celulares e outros objetos relevantes.
Mais de 50 horas de imagens foram analisadas, além de laudos técnicos, que resultaram no mandado de prisão. Após ser detido, Wyller permaneceu em silêncio e segue preso na cadeia pública de São Pedro do Turvo, aguardando julgamento.
Expectativa por justiça
Franciele lutou pela vida durante 41 dias, mas não resistiu. Sua filha nasceu prematura, fruto de um parto emergencial feito sob risco extremo. Hoje, cresce longe da mãe, cercada pelo carinho da família materna, que aguarda, com dor e esperança, por justiça.

O julgamento de WYLLER ALVES PEDRÃO deverá ser um dos mais marcantes dos últimos anos no interior paulista, simbolizando a luta contra o feminicídio e a violência doméstica.