Em carta aberta, Drª Kátia Henares anuncia sua saída da UTI neonatal de Santa Cruz e expõe interferência política
Foto de capa: Arquivo Jornal Debate
A médica Dra. Kátia Henares, uma das principais responsáveis pela criação da UTI Neonatal de Santa Cruz do Rio Pardo, anunciou sua saída do cargo de responsável técnica da unidade. A decisão foi comunicada por meio de uma carta aberta emocionada, publicada nesta terça-feira (22), e repercutiu fortemente entre profissionais da saúde e a comunidade santa-cruzense.
Em sua declaração, Kátia relembra os 19 anos de dedicação à causa da saúde infantil e conta que o sonho da UTI Neonatal nasceu da dor de ver tantas vidas se perderem por falta de estrutura. O projeto foi viabilizado através da ONG Maria Vitória, fundada por ela após a morte de uma bebê recém-nascida — episódio que se tornou o ponto de partida de sua trajetória na luta contra a mortalidade infantil no município.
“Sonhei, planejei, batalhei e ajudei a construir algo que parecia impossível: uma UTI Neonatal em Santa Cruz do Rio Pardo”, escreveu a médica, destacando que o espaço se transformou em sua missão de vida.
Em um dos trechos mais fortes da carta, a Dra. Kátia lamenta que o projeto tenha se desviado de seu propósito original, afirmando que a política passou a interferir diretamente no ambiente hospitalar.
“O que nasceu de um ideal passou a ser sufocado por algo que nunca fez parte dessa missão: a política”, desabafou.
“A troca de administrações na Santa Casa e a falta de diálogo tornaram o ambiente insustentável. Vi colegas desistindo, profissionais adoecendo e a essência do nosso trabalho sendo substituída por disputas que nada têm a ver com salvar vidas.”
A médica relata ainda que tentou resistir, enviando ofícios e buscando diálogo com a administração, mas sem resposta. O esgotamento emocional e a demissão coletiva de parte da equipe teriam sido decisivos para sua saída.
“Percebi que meu tempo ali havia se encerrado”, concluiu.
A IBTV apurou, na manhã desta quarta-feira (22), que o clima entre os profissionais de saúde e a direção clínica da Santa Casa é tenso. Apesar das declarações públicas de que não há interferência política na gestão, as indicações feitas pelo prefeito Otacílio Parras Assis ainda exercem influência direta sobre o funcionamento do hospital.
Segundo fontes internas, a situação tem prejudicado o ambiente de trabalho e afetado o andamento de setores essenciais, como o próprio atendimento neonatal.
“Mesmo após o fim da intervenção municipal, a Santa Casa não conseguiu se desvincular totalmente das decisões políticas”, relatou um funcionário que pediu para não ser identificado.
Na parte final da carta, a médica expressa tristeza, mas também gratidão e orgulho pelo legado deixado:
“Saio com dor, mas também com orgulho. Cumpri minha missão e cada vida salva continuará sendo o maior legado da minha trajetória. Enquanto ali existia medicina, amor e propósito, aquele lugar era minha casa. Mas quando a política tomou conta e a medicina deixou de ser o foco, entendi que era hora de partir.”
Dra. Kátia encerra dizendo que continuará acreditando na força da medicina feita com alma e vocação — mesmo fora das paredes da UTI que ajudou a construir.
Veja abaixo a carta aberta da Drª Kátia Henares divulgada nesta quarta-feira (22)


